Em fevereiro de 1985, enquanto o Brasil vivia a expectativa do fim do regime militar e a esperança de uma nova fase democrática, 77 Irmãs Salesianas de todo o país se reuniram na Casa de Encontro Santa Fé, em São Paulo, para o I ENCIS (Encontro Nacional das Comunidades Inseridas das FMA/Salesianas). A data coincidiu com o período do Carnaval, tempo simbólico de festa popular, e uniu-se ao clima de recomeço que tomava conta do país.

Aquele foi um momento histórico para a Igreja no Brasil e para as Comunidades Salesianas Inseridas. Inspiradas no Concílio Vaticano II e na caminhada eclesial latino-americana, as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) aprofundavam a sua opção pelos pobres e sua missão junto às populações das periferias. O ENCIS surgia como um espaço de reflexão e partilha de experiências, promovendo a interação entre as comunidades que viviam inseridas no meio popular e enfrentavam os desafios sociais e políticos daquele período.

O contexto de um Brasil em transição

O I ENCIS aconteceu em um momento de grande efervescência política e social. O Brasil saía de duas décadas de ditadura militar e se preparava para viver novamente sob um regime democrático. O povo retomava a participação ativa na vida política, lutava por direitos e reconstruía esperanças. Esse período também foi marcado pelo fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e pela reafirmação da opção preferencial pelos pobres, segundo as diretrizes da Igreja na América Latina.

Foi nesse contexto que as Irmãs Salesianas inseridas nas comunidades populares se reuniram para avaliar suas experiências e projetar caminhos para o futuro. O tema escolhido para aquele primeiro encontro, “Avaliação das pequenas comunidades e a situação da América Latina”, apontava para a necessidade de reler o Carisma Salesiano à luz da realidade social e política vivida pelo povo.

As propostas do I ENCIS

O primeiro encontro consolidou a caminhada das Comunidades Inseridas e gerou frutos concretos para a atuação das FMA no Brasil. A partir das partilhas e reflexões, foram traçadas algumas diretrizes fundamentais:

• Aprofundar a opção preferencial pelos pobres, reforçando a presença salesiana nas periferias;
• Reler o carisma salesiano no contexto latino-americano, priorizando a Educação Popular;
• Repensar a formação para a inserção (tanto inicial quanto permanente);
• Utilizar metodologias participativas, promovendo a autonomia das comunidades;
• Criar uma Equipe Nacional para animação e comunicação das Comunidades Inseridas;
• Estabelecer a periodicidade dos Encontros Nacionais para garantir continuidade e avaliação das ações.

Essas propostas foram fundamentais para fortalecer a presença salesiana nos meios populares e consolidar um estilo de vida religioso profundamente encarnado na realidade.

ENCIS: caminhada de presença e profecia

Desde aquele primeiro encontro, o ENCIS seguiu como espaço de reflexão, formação e partilha. Ao longo das décadas, foram abordados temas como espiritualidade da inserção, educação popular, teologia da libertação, protagonismo juvenil, questões de gênero e direitos humanos.

O ENCIS permitiu que as Comunidades Inseridas se mantivessem vivas e atentas às mudanças sociais, garantindo que a missão salesiana continuasse respondendo aos desafios do tempo presente. Hoje, 40 anos depois, essa caminhada continua sendo essencial para fortalecer o compromisso evangélico e profético da presença salesiana no meio popular.

O desafio da atualidade

O mundo mudou desde 1985, mas a urgência da missão salesiana nos meios populares permanece. As desigualdades se aprofundaram, a exclusão social aumentou, e novas formas de pobreza desafiam a Igreja e suas instituições. A opção pelos pobres continua sendo um chamado irrenunciável.

Nos dias de hoje, o Papa Francisco insiste na necessidade de uma “Igreja em Saída”, presente nos lugares mais vulneráveis, dialogando com as dores do povo e sendo sinal de esperança. O ENCIS continua a ser um espaço de discernimento e envio missionário para as Comunidades Inseridas, desafiando as Irmãs Salesianas (Filhas de Maria Auxiliadora) a permanecerem onde a vida está mais ameaçada.

Celebrar os 40 anos do ENCIS é renovar o compromisso de ser presença viva entre os pobres, testemunhar o Evangelho com alegria e manter a esperança acesa em tempos de desafios.

Que possamos seguir essa caminhada com os olhos fixos em Jesus, impulsionados pela força do carisma salesiano, sempre a serviço da vida e da juventude.